Andrey Lemos, a sua história não é um episódio

A situação em que o companheiro Andrey Lemos passa, apesar de exonerado do cargo de uma diretoria do Ministério da Saúde, está se tornando um grande risco para as pessoas pretas, mulheres e LGBTQIAPN+ no governo Lula. Os ataques diretos ao Andrey nas redes sociais e nas mídias alternativas são ações articuladas na ultradireita e que, inadvertida e infelizmente, muitas pessoas da militância da esquerda estão comprando como síntese da biografia do companheiro, que tem uma trajetória de luta pela saúde pública, defesa do SUS e dando grande contribuição ao Brasil. A galera do Planalto Central e do resto do país não conhece a sua caminhada de compromisso, de ética e de competência no fazer saúde pública, mas nós, de Sergipe, conhecemos e não deixaremos que um episódio estanque, isolado seja usado como arma de morte à história desse companheiro.

Andrey Lemos é de Aracaju. Desde adolescente iniciou a militância no movimento estudantil, da UJS, e foi filiado ao PCdoB até 2020, quando migrou para o PSB. Aqui em Sergipe ele organizou a UNEGRO contribuindo com o enfrentamento ao racismo e fortalecendo o Movimento Negro. Na Prefeitura de Aracaju assumiu a coordenação da Prevenção às ISTs/AIDS, trabalho reconhecido por todos os setores da sociedade. Militante socialista, antirracista, do candomblé, LGBTQIAPN+ sempre foi um homem de constante construção de usar identidade integrada às lutas sociais e aos compromissos pela superação do modelo atual de exploração.

Assim, não podemos permitir que a trajetória do companheiro Andrey Lemos seja achincalhada e reduzida a um episódio isolado e eivado de manifestações conservadoras. Não podemos silenciar diante desta orquestração. Erros piores já aconteceram no Governo Lula, a exemplo da nomeação e permanência do Ministro da Defesa, ante as situações de gravidade política que levou à implantação de uma CPI. Mas ele não é negro, candomblecista, LGBTQIAPN+, por isso permanece sem nenhum incômodo. Andrey, não está tendo direito de defesa. Os ataques nas redes sociais foram o suficiente para ser-lhe retirado o cargo.

Ele não foi demitido, como alguns veículos têm noticiado. Ele foi exonerado da função diretiva que exercia, a pedido. Essa imprensa não estuda muito bem as coisas e confunde (talvez propositalmente) os termos. Ele permanece servidor público efetivo do Ministério, cargo que ocupa desde 2015. Outro erro grosseiro é a afirmação de que ele foi “nomeado” por Bolsonaro em 2019 para membro de comitê. Sua designação para o Comitê Técnico de Saúde da População Negra, criado em 2004, demonstra seu compromisso a uma história de lutas em um comitê que tem por finalidade “promover a equidade e igualdade racial voltada ao acesso e à qualidade nos serviços de saúde, à redução da morbimortalidade, à produção de conhecimento e ao fortalecimento da consciência sanitária e da participação da população negra nas instâncias de controle social no SUS”. A sua trajetória profissional é consistente com essa designação.

A imprensa perde a oportunidade de (talvez por desonestidade) ressaltar a importância do controle social nas políticas públicas, e o Andrey Lemos tem a bagagem para ser um representante com compromisso histórico.

O Comitê para o qual ele foi designado em 2019 é um órgão colegiado, com diversos representantes de diversos segmentos, governamentais e não governamentais. Ele estava lá como representante do órgão do qual ele já era servidor efetivo. Só isso. E a nomeação dele com Diretor foi só agora no governo Lula. Especificamente, do Poder Executivo tinha representantes do Ministério da Saúde, da Educação, da Justiça, da Defesa, dos Direitos Humanos, da Sec. geral da presidência e outros. Eram servidores indicados por essas pastas para compor o Comitê. Da parte da sociedade civil, tinha representantes indicados pelos Conselhos de Classes Profissionais (OAB por exemplo e Conselho de Psicologia). Tinha representantes dos movimentos sociais e representantes de entidades representativas de trabalhadores, estudantes, etc. Ou seja, até a CUT tinha um representante nesse Comitê.Informação relevante é que a função que ele ocupava (de Diretor) lhe foi dada no governo Lula. Aí sim, estamos falando de nomeação. Ele foi nomeado Diretor em janeiro de 2023. Fora isso, era um servidor de carreira do Ministério da Saúde desde 2015.

O Andrey para muito além das suas identidades e autoafirmação, desempenhava uma função com imensurável competência e compromisso. A sua atitude de assumir integral responsabilidade pelo episódio demonstra a sua grandiosidade. Esta pode sucumbir aos ataques da ultradireita e da esquerda desavisada. Propomos que haja uma reação oposta à que temos visto. Que possamos orquestrar a melodia da trajetória vitoriosa do Andrey Lemos, que traz para o centro de decisões as pessoas que ele representa. Redes, movimentos, entidades, personalidades públicas, especialmente, as que estão na trincheira de luta contra o racismo, o machismo a lgbtfobia, bem como as que defendem o serviço público, a saúde pública e o fortalecimento do SUS não podem deixar que um fato isolado leve a macular e defenestrar um companheiro com tantas qualificações, competência e compromisso com a democracia, com a emancipação dos oprimidos e por um novo modelo de sociedade seja tratado como cachorro morto. Pois, é assim, que o sistema trata os negros e as negras, mas não calaremos. Esse mais um grito que bradamos!

Aracaju, 09 de outubro de 2023.

1) Movimento Nacional de Direitos Humanos – MNDH

2) Instituto Braços – Centro de Defesa de Direitos Humanos em Sergipe

3) Instituto de Estudos Étnicos Sócio Raciais Comunidade Ojú Ifá

4) Ilè àsé Ojú Ifá Ni Sahara

5) Comissão de Direitos Humanos do Conselho Regional de Psicologia

6) Fórum de Organizações Negras de Sergipe

7) Espaço de Arte, Cultura e Educação Omiró – Casa de Mar

8) Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros e Indígenas – Universidade Federal de Sergipe

9) Auto-organização de Mulheres Negras de Sergipe Rejane Maria

10) Rede de Mulheres Negras de Sergipe

11) Coletivo Danielle Bispo – Universidade Federal de Sergipe

12) Grupo Abaô de Capoeira Angola

13) Associação Mães da Resistência

14) Centro Dom José Brandão de Castro- CDJBC

15) Gabineta Popular da Vereadora Professora Sonia Meire/PSOL

16) Coletivo N’ATIVA

17) Coletivo Danielle Bispo – Universidade Federal de Sergipe

18) União dos Negros pela Igualdade- UNEGRO

19) Coletivo de Assistentes Sociais Resistência e Luta

20) Comitê Popular e de Cidadania de N.Sra. do Socorro

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